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Homens bons não deveriam morrer

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Sei que poderá soar estranho o título, porquanto a tal assertiva poderíamos acrescer, por exemplo, que crianças não deveriam morrer, que jovens não deveriam ter suas vidas abreviadas pelas variadas manifestações da violência que caminham paralelas à vida. Sei, disso tudo, eu sei.

E sei também que a morte, tal como, em regra, a significamos, como fim de tudo e mergulho na escuridão do nada, não existe. Ela é apenas o encerramento de um ciclo e o princípio de outro. E respeito, com absoluta naturalidade, quem discorda disso, pois, afinal de contas, as questões ligadas à transcendência são, no mínimo, controversas.

Mas, mesmo partindo do meu ponto de vista, destaco que há pessoas, as quais, pela decência que emprestam às suas caminhadas terrenas, como semeadores de afetos e de generosidade, não nos deveriam deixar. Deveriam permanecer como esteios exemplares das possibilidades de transformação que todos nós, sem exceções, de diferentes maneiras, buscamos.

Semana passada, dia 16, nos deixou um desses homens raros, que fazem das próprias vidas, sem qualquer alarde, modelo de decência, de retidão de caráter, de desprendimento e de sincera humildade. Falo de Mário Villanova Seixas, médico, político, cidadão exemplar, homem exemplar.

Homens como Mário são escassos, por isso, quis homenageá-lo com este texto rápido e menor do que ele merece. Eu poderia falar do Mário agente político da nobre e quase extinta estirpe dos que fazem Política (com inicial maiúscula) por abnegação, pelo gosto de servir, pelo desejo de ser útil.

Nesta seara, a da política, foi três vezes prefeito, antes do advento da reeleição, do pequeno município gaúcho de Putinga. Aqui, em Santa Maria, foi conselheiro equilibrado e sensato de gente mais jovem, que pela afoiteza própria da inexperiência, muitas vezes acaba por deixar de lado os pressupostos fundamentais da política, dos quais avulta a capacidade de entender os diferentes pontos de vista e de dialogar em torno deles, na busca, senão do consenso, pelo menos do caminho que contemple os interesses da maioria. Aliás, vale registar, de Putinga veio consistente representação que fez tocante homenagem ao amigo da cidade, que faleceu.

Poderia falar do Mário clínico geral atencioso, sorridente, que fez do consultório ambiente de aconchego, de atenção e de carinho, sem jamais deixar que qualquer outro interesse se sobrepusesse à necessidade de bem atender a quem o procurasse.

No fim, pouco falei do homem Mário Seixas, marido, pai, irmão, padrinho, amigo, que engloba os outros Mário e os complementa com um sorriso generoso que somente os homens bons podem sorrir. Tomara que não nos esqueçamos dele e de suas lições de vida, como, infelizmente, costuma acontecer com quem nos deixa. Parafraseando um jornalista norte-americano (se referia a Martin Luther King, então recém assassinado), "Mário, o homem bom, resta memória de amor no silêncio da lápide fria". Não deixemos que essa memória feneça.

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